QUANDO A FOTOGRAFIA SE FEZ ARTE?

Fotografia: Jean Toir

Mais do que um invento, a fotografia foi uma descoberta de paternidade discutível, seja porque essa descoberta ocorreu concomitantemente em lugares diferentes, seja porque muito já se sabia sobre a formação da imagem projetada pela luz desde a antiguidade, demorava apenas
descobrir como fixar essa imagem sobre uma superfície. A fotografia reune conhecimentos da física, no caso a óptica, para gerar a imagem, e da química, para registrar essa imagem em uma superfície, assim a fotografia é produto de um aparato tecnológico: a câmera. Apesar de tão relacionada a um instrumento técnico e tão suspeita de espelhar o real, sabemos hoje que a fotografia é também uma carga subjetiva, um olhar, uma ideia, um discurso, uma visão de um fotógrafo, que pode ser um artista ou não, mas nem sempre foi assim.

Fotografia versus arte

O impacto que a fotografia teve sobre as artes quando surgiu foi grande. Muitos pintores se viram ameaçados e realmente muitos ateliês deram lugar a estúdios fotográficos, o número de pintores começou a reduzir drasticamente com o surgimento da fotografia. O filósofo
francês Boudelaire, anunciava que a fotografia era “o inimigo mais mortífero da arte”, estes pensadores temiam a substituição da pintura pela fotografia. Esse tipo de mentalidade enxergava a fotografia como um procedimento meramente técnico que utilizava a luz para registrar partes da realidade. A negação ao entendimento da fotografia como arte era tão severa que a organização da Exposição Internacional de Londres de 1862 recusou-se a exibir fotografias na mesma sala dedicada às obras de arte, expondo-as na seção de equipamentos mecânicos.

Pictorialismo

A partir da segunda metade do século XIX entra em cena o movimento pictorialista, congregando os fotógrafos que ambicionavam produzir aquilo que consideravam como fotografia artística, a partir desse momento a fotografia começou a ganhar reconhecimento artístico. Iniciado na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos, o pictorialismo objetivava conferir à fotografia o mesmo status dos demais processos artísticos até então consagrados.

Fotografia pictorialista de Henry Peach Robinson (1858)

Na ânsia desse reconhecimento artístico, muitos adeptos do pictorialismo passaram simplesmente a tentar imitar a aparência e o acabamento de pinturas, gravuras e desenhos em suas fotos, ao invés de tentarem explorar os novos campos estéticos oferecidos pela fotografia. Por este motivo, este movimento, que se estendeu até a década de 1920 tendo sido estigmatizado durante muito tempo. O fato é que este movimento teve sua importância em evidenciar boa parte do potencial subjetivo da fotografia.

Fotografia pictorialista de Robert Demachy (1904)

Fotografia Expandida

Desde o pictorialismo a fotografia foi gradualmente deixando de ser entendida dentro de uma concepção denominada fotografia artística. Essa denominação era um tanto quanto equivocada e desprovida de sentido profundo, ocorre que a fotografia se expandiu em diversos caminhos e muita teoria e definições foram apontadas sobre a fotografia enquanto criação artística. Os termos mais indicados para designar a fotografia criativa na atualidade são “fotografia de autor” ou “fotografia de expressão pessoal”. Há no entanto, o conceito de fotografia expandida, (ou fotografia experimental, manipulada, criativa, entre outras denominações) e este conceito está centrado na experiência do fazer e nos procedimentos utilizados pelo artista. O fotógrafo que a produz esse tipo de fotografia não se prende aos padrões da fotografia tradicional ele a subverte ao seu processo artístico.

Obra de Lilian Barbon

Andréas Müller-Pohle, crítico, fotógrafo e editor da revista European Photography, foi o primeiro a definir o conceito de fotografia expandida: “aquela que rompe com a tradição visual fotográfica inaugural e amplia a órbita conceitual no que diz respeito à produção da imagem fotográfica.”

Para este crítico, fazer fotografia expandida significa interferir no processo, como por exemplo: interferência no objeto fotografado, no aparelho que fotografa ou na própria fotografia, tanto no negativo quanto no positivo. Além disso, leva-se também em consideração a possibilidade de intervenção no plano da distribuição e do consumo dessas imagens. Assim, dentro do conceito de fotografia expandida devem ser considerados todos os possíveis tipos de manipulação da imagem e de interferência nos procedimentos fotográficos, o que possibilita à fotografia um caráter inovador e atual. A Escola Câmera Criativa tem essa frente, está no âmago da nossa escola a criatividade, presente até no nome. Esse entendimento da fotografia enquanto expressão de arte, promove um importante canal não apenas local, mas amplamente conectado à forte presença da fotografia na cena artística contemporânea, seja naquilo que preenche nosso curso de Fotografia e Arte, seja nas ações tomadas para evidenciar novos talentos na realização de exposições e publicações cada vez mais relevantes. Agora você já sabe, quando a referência for criativa, qual é a escola.

Por André Ricardo Souza

Professor da Câmera Criativa Escola de Fotografia e Arte